Este blog é consequência de uma
atividade solicitada em curso à distância do qual participamos: Programas
Práticas de Leitura e Escrita na Contemporaniedade/Curso 1 – Leitura e Escrita
em Contexto Digital, oferecido pela Escola de Formação de Professores Paulo
Renato Costa Souza, da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
O módulo 2 do
curso nos propôs criarmos um blog e fazermos a primeira postagem relatando
nossas experiências com a leitura, nossas lembranças infantis.
No módulo 3
estudamos as esferas de atividades
humanas e os gêneros dos discursos. Em síntese, “todo o texto escrito ou falado pertence a um determinado gênero do
discurso” e está relacionado às esferas das atividades humanas: os papéis que desempenhamos, o contexto sócio,
cultural, econômico e histórico, a
situação de comunicação, são vários os fatores que determinam o gênero que é
constituído por três elementos: conteúdo
temático, forma composicional e estilo. Transcrevemos, a seguir, um trecho
do curso que muito esclarece sobre o assunto:
Segundo Bakhtin, "a utilização da língua
efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que
emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. O enunciado
reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas,
não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela
seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e
gramaticais –, mas também, e sobretudo, por sua construção composicional.
Esses três elementos (conteúdo temático,
estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do
enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de
comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual,
mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente
estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discursos."
(BAKTHIN: 1992:279).
Para exercitarmos, foi-nos
proposto compormos diferentes gêneros com base na Sequência de eventos retirada de LAGE, Nilson.
Estrutura da notícia. São Paulo: Ática, 2006. p. 21-22:
Abre os olhos – consulta o
relógio de cabeceira – levanta-se – vai ao banheiro – escova os dentes – lava o
rosto – ouve a campainha tocar – enxuga-se às pressas – saí do banheiro –
caminha até a porta – destranca a fechadura – abre a porta – vê um homem caído
na soleira – corre o olhar em torno – constata que não há mais ninguém –
abaixa-se – toca o homem com os dedos – sente que o corpo está frio e rígido –
percebe que é um cadáver – corre para o telefone – disca o número da central de
polícia.
A sequência acima apresentará um
gênero diferente conforme o contexto da situação, seus interlocutores, a
finalidade do discurso, por exemplo. Imaginemos que esta sequência seja narrada
em uma CONVERSA TELEFÔNICA:
- Alô!
- Ester?
- Sim.
- É a Magda,
menina! Nem te conto o que acabou de me acontecer! Tô chocada!!
- Nooossa,
Magda, que foi?
- Acho que
mataram...
- Mataram
quem?
- Um homem!!!
Eu achei...
- Tá louca?!?!
- Espera aí,
vou contar desde o começo...
- Conta logo!
- Eu acordei
achando que tinha ouvido um barulho. Olhei o relógio da cabeceira, era cedo mas
resolvi levantar, já tinha perdido o sono. Fui ao banheiro, escovei os dentes,
lavei o rosto...
- Tá bom! Não
precisa contar todos os detalhes, caramba! Fala do principal...
- Tá...Tá....
Eu estava no banheiro, ouvi a campainha, me enxuguei correndo e fui atender.
Mas, você sabe, aquele monte de fechadura complicadas, até eu abrir a porta,
né?
- Vai, conta!
- Então, abri
a porta. Que susto! Tinha um homem caído bem em frente. Olhei em volta...
Ninguém no corredor! Aí, eu me abaixei, né? Mexi no homem e vi que o corpo dele
estava gelado.
- Credo, tava
morto?
- É...
Mortinho!
- O que você
fez?
- O que eu
podia fazer? Tava tremendo que nem vara verde mas fui até o telefone e liguei
para a polícia. Ei, depois te ligo. O delegado tá chamando. Que homem charmoso,
amiga!
- O morto?!?
- Não, né ? O
delegado. Já, já te ligo!
E se lêssemos o fato em um
jornal, como poderia ser a NOTÍCIA?
CORPO É
ENCONTRADO EM SOLEIRA DE PORTA
O cadáver de
um homem não identificado foi encontrado em Santo André, ontem, por volta de
06h40, por Magda Aparecida Montanha, 39, na soleira de sua porta, na Vila das
Lágrimas. A vítima aparenta 45 anos e corpo apresenta marcas que indicam espancamento.
Segundo Magda,
logo que acordou ouviu a campainha tocar e, ao abrir a porta, deparou-se com o
corpo no chão sem que percebesse mais ninguém por perto. Imediatamente ligou
para polícia que compareceu em seguida, removendo o cadáver para o IML.
Para o delegado
de plantão, Dr. Olegário Neves, o caso é um mistério pois causa estranheza o
fato de Magda morar em apartamento, o que dificultaria o acesso de estranhos,
já que nenhum dos moradores inquiridos reconheceu a vítima.
Mas, se a manchete estivesse
em um jornal destinado às camadas mais populares, ou fosse um JORNAL SENSACIONALISTA,
poderíamos lê-la assim:
DESOVA DE
CADÁVER EM PORTA DE ARQUITETA
Esta mesma sequência poderia
dar inspiração a uma CRÔNICA: Normalmente, a crônica possui um caráter
mais informal, leve, com linguagem coloquial.
Entre abrir o
olhos e sair de casa, a manhã pode nos reservar muitas surpresas: a vida é o
desafio do imprevisível. Pois Magda abriu os olhos antes que o despertador a
chamasse e no relógio de cabeceira conferiu a marca dos minutos de sono que lhe
foram roubados. Fazer o quê? Rolar na cama ou enfrentar o dia? Enfrentar o dia?
Não, Marta, não será sua melhor opção.
Teimosa,
levantou-se! Então, vá em frente: banheiro, escova de dentes, lavar o rosto,
campainha... Ãan? Campainha? Isto está fora do contexto cotidiano. Bem,
continue, enxugue-se rapidamente e vá atender. Não, não vá... é melhor ficar.
Foi. Agora é tarde: o imprevisível espera!
Sempre
atrapalhada para destravar a fechadura, todo o dia o mesmo problema! Se bem
que, hoje, o melhor seria manter a porta fechada. Conseguiu abrir e nada...
Magda, olhe para baixo - Meu Deus, um homem caído! Verifique o corredor...
Ninguém! Só você e ele, fazer o quê? Talvez tenha passado mal, talvez esteja
bêbado... Melhor verificar. Ou não? Sem muita coragem, Magda se abaixa e seus
dedos sentem o frio do rosto, a rigidez... é um cadáver!?! Calma, pare de tremer!
Agora, Magda,
o imprevisível já é fato, seu dia será diferente de todos os outros que acontecem
da mesma maneira. Nada mais resta a fazer, corra ao telefone e chame 190. Isso
vai dar um trabalho! A vizinhança sairá para ver o corpo, a polícia chegará,
comentários e mais comentários, o corpo será removido e você precisará prestar
depoimento. Na delegacia, será atendida pelo Dr. Olegário e... tudo é
imprevisível.
Mas pode-se optar para um
tom mais poético, a chamada PROSA POÉTICA, um
pouco crônica, um pouco conto. Às vezes,
torna-se difícil delimitar espaços.
Abrir os
olhos, consultar o relógio da cabeceira, levantar-se, ir ao banheiro, escovar
os dentes, lavar o rosto... Magda maldisse a rotina de todos os dias, garantindo
a força do pleonasmo para cada um dos segundos passados em sua vida até este
momento. Talvez, por isso, a campainha tenha tocado para garantir-lhe que nenhum
dia pode ser exatamente igual aos outros. Quem sabe para adverti-la que não há
certezas, não há tempo para que o inesperado aconteça. Enxugou-se às pressas e
saiu deixando para trás a boquiaberta porta do banheiro. Tão cedo... quem
estaria lá fora?
Caminha para a
sala ainda carregada pela embriaguês do sono que lhe confunde ao tentar
destrancar a fechadura e só terá a revelação que nenhum dia se sucede a outro
quando, ao abrir a porta, vir um corpo caído na soleira. Susto! Certamente, não
será uma manhã como outras. Alguém mais no corredor? Certifica-se de que estão
sozinhos, ela e o corpo inerte. Entre o espanto e o medo, abaixa-se,
timidamente toca-lhe a face escondida pelos cabelos que a encobrem e em seus
dedos o horror – a pele gelada, a rigidez da morte, um cadáver a sua soleira!
Fecha a porta
instintivamente, faltam-lhe forças, arrasta-se até o telefone e por diversas
vezes tenta discar o número da polícia. Definitivamente, a vida surpreende: um
corpo à porta para mostrar-lhe que o imponderável nos circunda.
E se déssemos continuidade à
história levantando-a a outras circunstâncias, digamos surrealistas? Poderíamos
transformá-la num CONTO FANTÁSTICO. Vejamos o prosseguimento.
Magda interrompe
a chamada... desliga o telefone... volta-lhe a imagem do corpo inerte... as
roupas que vestia... os cabelos... só agora percebe... o ar lhe falta. Volta
para a porta, o pijama listrado que lhe veste, veste o cadáver. Ajoelha-se e,
afastando os cabelos que cobrem o rosto que lhe visita, reconhece nele o seu
próprio rosto. A luz da manhã abandona o corredor.
E se POEma
fosse?
Abra os olhos,
Atente!
À soleira da porta,
A morte espreita!
Poderia ser um rap, um
monólogo, um júri, uma peça teatral, um assunto exposto em uma aula, tantas
situações de comunicação que variariam o gênero conforme as esferas de
atividades humanas em que está inserido.
(Os textos publicados são de Vitória Paterna)
Atividade:
Pertencemos ao grupo 3 e o
gênero de texto que devemos construir para avaliação é um INTERROGATÓRIO.
texto 1
- Srª. Magda?
Por favor, sente-se nesta cadeira.
- Obrigada.
- Foi a
senhora quem encontrou o corpo?
- Sim, fui eu.
- Vamos
começar. Tente lembrar-se de todos os detalhes, tudo é importante. Seu nome
completo, por favor!
- Magda
Aparecida Montanha.
- Profissão?
- Sou
arquiteta.
- Onde ocorreu
o fato?
- Na porta de
meu apartamento.
- Qual o seu
endereço?
- Rua dos
Jequitibás, nº 315, ap 12, na Vila das Lágrimas.
- A senhora
pode precisar a hora do acontecimento?
- Por volta
das 06h40, pelos meus cálculos.
- Conte o que
a senhora viu.
- Bem, eu
estava dormindo e tive a impressão de ouvir um barulho que me fez acordar. Abri
os olhos, conferi as horas em meu relógio de cabeceira e vi que eram 06h34.
Percebi que não adiantava voltar a dormir, logo o despertador tocaria às 07h00
e resolvi levantar. É para contar os detalhes?
- Podem ser importantes...
- Então,
levantei-me, lavei o rosto... Não, primeiro escovei os dentes e depois lavei o
rosto porque, quando eu estava lavando o rosto, ouvi a companhia tocar.
Estranhei, àquela hora e, como moro em apartamento, pensei que fosse um
vizinho. Enxuguei o rosto depressa, saí do banheiro e fui abrir a porta.
- Foi quando a
senhora achou o corpo?
- Sim, quer
dizer, a fechadura do apartamento é complicada. Enquanto eu tentava destrancar,
perguntei quem era mas ninguém respondeu. Quando consegui abrir a porta, vi um
homem caído.
- Exatamente
onde?
- Bem na
soleira da porta.
- O prédio em
que a senhora mora não tem porteiro?
- Não. São
apenas oito apartamentos.
- As visitas
sobem direto para os apartamentos?
- Não. Usam o
interfone para se anunciar.
- E o
interfone não tocou?
- Não. Quer
dizer, eu não ouvi. Pode ser que tenha tocado enquanto eu estava dormindo.
- A senhora
não teria acordado com ele?
- Pelo menos,
eu não percebi ele tocar. Por isso, quando tocaram a campainha de minha porta,
pensei que fosse um de meus vizinhos.
- E o que
aconteceu depois que viu o corpo caído no chão?
- Bem, eu
olhei o corredor para ver se havia mais alguém mas não havia mais ninguém. Eu
me abaixei para ver se era alguém que teria passado mal, mas levei um choque:
quando toquei o corpo, ele estava gelado... Credo!!! Já estava com aquela
rigidez, sabe... de morto... Percebi que era um cadáver. Fiquei apavorada e
tranquei a porta depressa.
- Não chamou
seus vizinhos?
- Nem ia
adiantar. O apartamento 13 é de uma senhora idosa, só iria assustá-la. O casal
do 11 sai mais cedo, eles trabalham em outra cidade. O apartamento 14 está
desocupado... não tinha quem eu pudesse chamar
no meu andar. Além disso, fiquei com medo que houvesse mais alguém
escondido.
- A senhora
mora sozinha?
- Sim.
- A senhora
fechou a porta e o que aconteceu em seguida?
- Corri para o
telefone e chamei 190.
- Percebeu
algum ferimento no corpo, viu alguma arma, qualquer coisa diferente?
- Não, nada. O
homem só estava lá, caído, morto... Liguei para os outros vizinhos do andar de
cima e avisei sobre o cadáver. E, depois, mais alguns minutos, chegou a
polícia. Só aí abri a porta de novo.
- Tem mais
algum detalhe para acrescentar?
- Não, isso é
tudo de que me lembro.
- Assine seu
depoimento, por favor! Está dispensada, obrigado.
Vitória
Paterna
Texto 2
Após o delegado ter passado pelo local
da ocorrência, chamou a testemunha para um interrogatório:
-Bom, Dona Juliana, peço que se acalme
e me responda algumas perguntas. A que horas a senhora acordou?
-Eu acordei por volta das seis horas.
-E o que a senhora fez em seguida?
-Me levantei e desliguei o despertador,
depois fui ao banheiro, lavei o rosto e me dirigi à cozinha, ouvi uma buzina e
fui até a porta
achando que era o leiteiro.
-E quem era?
-Quando abri a porta, me deparei com um
cadáver estendido em meu jardim.
-E aí, o que a senhora fez, D. Juliana?
-Me aproximei do corpo. Olhei assustada
para o cadáver para ver se identificava quem era, mas não consegui reconhecer.
Então, tomei coragem e pus a mão em seu
pulso e verifiquei que realmente já estava gelado.
-O que fez a seguir?
-Fiquei meio desnorteada, sem saber ao
certo o que fazer, depois corri para dentro e liguei para o plantão policial.
-A pessoa que me atendeu me fez algumas
perguntas e me tranquilizou para esperar a viatura chegar
Ana Maria Soares da Silva de Morais