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sábado, 24 de novembro de 2012

FIM DA PRIMEIRA ETAPA!


        Chegamos ao final deste curso, Leitura e Escrita em Contexto Digital, o primeiro de Práticas de Leitura e Escrita na Contemporaneidade, patrocinado pela Escola de Formação de Professores Paulo Renato Costa Souza, e o que resta além de muito conhecimento adquirido, são as experiências e os desafios que tivemos que enfrentar. Nos vários depoimentos dos colegas, percebemos que todos tivemos dificuldades mas que saímos muito gratificados. Foi uma experiência diferente, a maioria nunca havia participado de um curso à distância e não tinham familiaridade com a tecnologia digital. Construir um blog? Que loucura! Mas veja só: o blog está aqui!
                     
        A vida pessoal continuava com seus velhos e inadiáveis compromissos, como dar conta do curso? Insegurança, medo de não conseguir. Entretanto, a rede de amizade, a interação entre os grupos e o estímulo mútuo entraram em ação e fomos remando todos juntos em direção ao porto final. É verdade que, aparentemente,  perdemos alguns de nossos remadores mas o barco seguiu sempre em frente.
    Como foi bom participar dos fóruns, conversar com os colegas, trocar informações e impressões, quantos desabafos, revelações, alegrias: tantas coisas compartilhadas! E não é que na sala de aula virtual também há espaços para agrados e brincadeiras! Até poesias fizemos!  Este curso valeu muito, foi motivador, envolvente e engrandeceu o nosso conhecimento, a nossa vivência.
       Conforme citado em um dos fóruns, Pessoa pergunta – “Valeu à pena?” – e responde: “Tudo vale a pena,se a alma não é pequena”. Nossa visão sobre os cursos online mudou. Fomos em frente e ultrapassamos todos os obstáculos. Vencemos!

                                              

Quanto ao blog? Bem, foi uma experiência tão gratificante que, provavelmente, continuará no ar.

ESCOLA E FORMAÇÃO DE LEITORES


Ler é melhor que estudar” (Ziraldo). Será? Talvez ler seja a forma mais prazerosa de estudar já que, quando tomamos um livro em nossas mãos e adentramos suas páginas estamos estudando a vida,  os personagens, a realidade, os sonhos, visão de mundo, questionamentos, afirmações, posicionamentos, enfim, estamos nos apropriando da leitura em seu sentido mais amplo, mais libertador e completo/complexo. A questão é a dicotomia que se apresenta entre leitura e escola, como se a primeira se transformasse em instrumento  de tortura quando se desenvolve dentro do ambiente escolar.

Há algumas generalizações perigosas como a de que “A escolarização, no caso da sociedade brasileira, não leva à formação de leitores e produtores de textos proficientes e eficazes e, às vezes, chega mesmo a impedi-la.” (Roxane Rojo). Porventura todos os alunos que passam pelos bancos escolares, seja na escola pública ou particular, tornaram-se leitores e produtores de textos tão ineficazes assim? É evidente que se pode observar o fracasso em parte do alunado mas, por competências inatas ou por tarefa de professores capazes e abnegados, muitos dos estudantes também apresentam habilidades  bastante consideráveis que os leva a interagir com o mundo da escrita de forma eficaz. É que a preocupação em relação à escola e seus profissionais é dirigida para aqueles que não conseguem, como se um médico fosse considerado apenas pelos seus mortos, esquecendo-se de suas curas.



Todos os educadores, neste caso é permitida a generalização, devem privilegiar o trabalho com o texto e todas as suas tramas. Tudo é texto: a poesia, a crônica, o questionário, as instruções, o relatório, o relato, a tela dos pintores ou do computador, os mapas, as equações matemáticas, a linguagem corporal, o diálogo, até o nosso pensamento. Este material é o instrumento de trabalho do professor e é necessário aprender a manejá-lo. A leitura do texto escrito apresenta a mesma dificuldade de outras. Como relacionar ou diferenciar a tela renascentista e a barroca? Como interpretar um gráfico? Como localizar informações em um mapa? Compreender o poema concreto? A forma geométrica ou frase matemática?  Tudo é texto que precisa ser decifrado, compreendido, interpretado, relacionado, extrapolado, enfim, quantos mais fios da trama textual pudermos emaranhar melhor será a apropriação de seus sentidos.

                             
                           

O desafio para a escola e seus professores é tornar a maior parte de seus alunos mais do que alfabetizados, que cheguem a níveis de letramentos mais complexos.  No texto escrito, o caminho se inicia na decodificação da palavra, passa pelo entendimento da combinação das palavras e frases, até a apreensão global do texto. Esta apreensão exige ativação de conhecimento de mundo seja do leitor como do autor. Vários processos mentais ocorrem como a antecipação dos conteúdos, a checagem de hipóteses, localização e comparação de informações, generalizações, conclusões, inferências locais e globais. Não nos apercebemos que é um processo tão complexo e, talvez a falha de alguns professores esteja em reconhecer se o estudante conseguiu esta abstração. O educador consciente deste processo buscará desenvolver estratégias para que seu aluno atinja de forma satisfatória estas etapas.
                                              
O trabalho ainda não está concluído pois há que apreciar o texto, inteirar-se, dialogar com seu autor e posicionar-se. É necessário reconhecer sua finalidade, relacioná-lo a outros textos, discursos e linguagens. A cidadania estará interagindo com todo o processo quando o leitor for capaz de apreciar e discutir os valores sejam eles éticos, políticos ou estéticos do texto.
A tarefa do professor em relação ao texto é muito mais ampla do que a alfabetização, simples compreensão ou localização de informações. Para ser competente na produção escrita e na leitura, muitas e diversas habilidades devem ser utilizadas pelos alunos e cabe ao mestre a sensibilidade de buscar e descobrir estratégias para alcançá-las. É sabido, entretanto, que parcela da comunidade escolar não atinge esta competência, poucos não conseguem sequer ultrapassar a barreira da alfabetização por maiores que sejam os esforços de seus educadores. A Ciência ainda engatinha na busca das causas destes distúrbios da aprendizagem e suas implicações neurológicas. Há fatores que o professor, por maior que seja sua competência e conhecimento, sozinho não pode resolver e clama pelo auxílio de um especialista. 

domingo, 4 de novembro de 2012

OS DIFERENTES GÊNEROS



Este blog é consequência de uma atividade solicitada em curso à distância do qual participamos: Programas Práticas de Leitura e Escrita na Contemporaniedade/Curso 1 – Leitura e Escrita em Contexto Digital, oferecido pela Escola de Formação de Professores Paulo Renato Costa Souza, da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

O módulo 2 do curso nos propôs criarmos um blog e fazermos a primeira postagem relatando nossas experiências com a leitura, nossas lembranças infantis.

No módulo 3 estudamos  as esferas de atividades humanas e os gêneros dos discursos. Em síntese, “todo o texto escrito ou falado pertence a um determinado gênero do discurso” e está relacionado às esferas das atividades humanas: os papéis que desempenhamos, o contexto sócio, cultural,  econômico e histórico, a situação de comunicação, são vários os fatores que determinam o gênero que é constituído por três elementos: conteúdo temático, forma composicional e estilo. Transcrevemos, a seguir, um trecho do curso que muito esclarece sobre o assunto:
Segundo Bakhtin, "a utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais –, mas também, e sobretudo, por sua construção composicional.
Esses três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discursos." (BAKTHIN: 1992:279).
Para exercitarmos, foi-nos proposto compormos diferentes gêneros com base na Sequência de eventos retirada de LAGE, Nilson. Estrutura da notícia. São Paulo: Ática, 2006. p. 21-22:
Abre os olhos – consulta o relógio de cabeceira – levanta-se – vai ao banheiro – escova os dentes – lava o rosto – ouve a campainha tocar – enxuga-se às pressas – saí do banheiro – caminha até a porta – destranca a fechadura – abre a porta – vê um homem caído na soleira – corre o olhar em torno – constata que não há mais ninguém – abaixa-se – toca o homem com os dedos – sente que o corpo está frio e rígido – percebe que é um cadáver – corre para o telefone – disca o número da central de polícia.
A sequência acima apresentará um gênero diferente conforme o contexto da situação, seus interlocutores, a finalidade do discurso, por exemplo. Imaginemos que esta sequência seja narrada em uma CONVERSA TELEFÔNICA:
- Alô!
- Ester?
- Sim.
- É a Magda, menina! Nem te conto o que acabou de me acontecer! Tô chocada!!
- Nooossa, Magda, que foi?
- Acho que mataram...
- Mataram quem? 
- Um homem!!! Eu achei...
- Tá louca?!?!
- Espera aí, vou contar desde o começo...
- Conta logo!
- Eu acordei achando que tinha ouvido um barulho. Olhei o relógio da cabeceira, era cedo mas resolvi levantar, já tinha perdido o sono. Fui ao banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto...
- Tá bom! Não precisa contar todos os detalhes, caramba! Fala do principal...
- Tá...Tá.... Eu estava no banheiro, ouvi a campainha, me enxuguei correndo e fui atender. Mas, você sabe, aquele monte de fechadura complicadas, até eu abrir a porta, né?
- Vai, conta!
- Então, abri a porta. Que susto! Tinha um homem caído bem em frente. Olhei em volta... Ninguém no corredor! Aí, eu me abaixei, né? Mexi no homem e vi que o corpo dele estava gelado.
- Credo, tava morto? 
- É... Mortinho!
- O que você fez?
- O que eu podia fazer? Tava tremendo que nem vara verde mas fui até o telefone e liguei para a polícia. Ei, depois te ligo. O delegado tá chamando. Que homem charmoso, amiga!
- O morto?!?
- Não, né ? O delegado. Já, já te ligo!

E se lêssemos o fato em um jornal, como poderia ser a NOTÍCIA?


CORPO É ENCONTRADO EM SOLEIRA DE PORTA
O cadáver de um homem não identificado foi encontrado em Santo André, ontem, por volta de 06h40, por Magda Aparecida Montanha, 39, na soleira de sua porta, na Vila das Lágrimas. A vítima aparenta 45 anos e corpo apresenta marcas que indicam espancamento.
Segundo Magda, logo que acordou ouviu a campainha tocar e, ao abrir a porta, deparou-se com o corpo no chão sem que percebesse mais ninguém por perto. Imediatamente ligou para polícia que compareceu em seguida, removendo o cadáver para o IML.
Para o delegado de plantão, Dr. Olegário Neves, o caso é um mistério pois causa estranheza o fato de Magda morar em apartamento, o que dificultaria o acesso de estranhos, já que nenhum dos moradores inquiridos reconheceu a vítima.


Mas, se a manchete estivesse em um jornal destinado às camadas mais populares, ou fosse um JORNAL SENSACIONALISTA, poderíamos lê-la assim:


DESOVA DE CADÁVER EM PORTA DE ARQUITETA



Esta mesma sequência poderia dar inspiração a uma CRÔNICA: Normalmente, a crônica possui um caráter mais informal, leve, com linguagem coloquial.

Entre abrir o olhos e sair de casa, a manhã pode nos reservar muitas surpresas: a vida é o desafio do imprevisível. Pois Magda abriu os olhos antes que o despertador a chamasse e no relógio de cabeceira conferiu a marca dos minutos de sono que lhe foram roubados. Fazer o quê? Rolar na cama ou enfrentar o dia? Enfrentar o dia? Não, Marta, não será sua melhor opção.
Teimosa, levantou-se! Então, vá em frente: banheiro, escova de dentes, lavar o rosto, campainha... Ãan? Campainha? Isto está fora do contexto cotidiano. Bem, continue, enxugue-se rapidamente e vá atender. Não, não vá... é melhor ficar. Foi. Agora é tarde: o imprevisível espera!
Sempre atrapalhada para destravar a fechadura, todo o dia o mesmo problema! Se bem que, hoje, o melhor seria manter a porta fechada. Conseguiu abrir e nada... Magda, olhe para baixo - Meu Deus, um homem caído! Verifique o corredor... Ninguém! Só você e ele, fazer o quê? Talvez tenha passado mal, talvez esteja bêbado... Melhor verificar. Ou não? Sem muita coragem, Magda se abaixa e seus dedos sentem o frio do rosto, a rigidez...  é um cadáver!?! Calma, pare de tremer!
Agora, Magda, o imprevisível já é fato, seu dia será diferente de todos os outros que acontecem da mesma maneira. Nada mais resta a fazer, corra ao telefone e chame 190. Isso vai dar um trabalho! A vizinhança sairá para ver o corpo, a polícia chegará, comentários e mais comentários, o corpo será removido e você precisará prestar depoimento. Na delegacia, será atendida pelo Dr. Olegário e... tudo é imprevisível.


Mas pode-se optar para um tom mais poético, a chamada PROSA POÉTICA, um pouco crônica, um pouco conto.  Às vezes, torna-se difícil delimitar espaços.

Abrir os olhos, consultar o relógio da cabeceira, levantar-se, ir ao banheiro, escovar os dentes, lavar o rosto... Magda maldisse a rotina de todos os dias, garantindo a força do pleonasmo para cada um dos segundos passados em sua vida até este momento. Talvez, por isso, a campainha tenha tocado para garantir-lhe que nenhum dia pode ser exatamente igual aos outros. Quem sabe para adverti-la que não há certezas, não há tempo para que o inesperado aconteça. Enxugou-se às pressas e saiu deixando para trás a boquiaberta porta do banheiro. Tão cedo... quem estaria lá fora?
Caminha para a sala ainda carregada pela embriaguês do sono que lhe confunde ao tentar destrancar a fechadura e só terá a revelação que nenhum dia se sucede a outro quando, ao abrir a porta, vir um corpo caído na soleira. Susto! Certamente, não será uma manhã como outras. Alguém mais no corredor? Certifica-se de que estão sozinhos, ela e o corpo inerte. Entre o espanto e o medo, abaixa-se, timidamente toca-lhe a face escondida pelos cabelos que a encobrem e em seus dedos o horror – a pele gelada, a rigidez da morte, um cadáver a sua soleira!
Fecha a porta instintivamente, faltam-lhe forças, arrasta-se até o telefone e por diversas vezes tenta discar o número da polícia. Definitivamente, a vida surpreende: um corpo à porta para mostrar-lhe que o imponderável nos circunda.

E se déssemos continuidade à história levantando-a a outras circunstâncias, digamos surrealistas? Poderíamos transformá-la num CONTO FANTÁSTICO. Vejamos o prosseguimento.

Magda interrompe a chamada... desliga o telefone... volta-lhe a imagem do corpo inerte... as roupas que vestia... os cabelos... só agora percebe... o ar lhe falta. Volta para a porta, o pijama listrado que lhe veste, veste o cadáver. Ajoelha-se e, afastando os cabelos que cobrem o rosto que lhe visita, reconhece nele o seu próprio rosto. A luz da manhã abandona o corredor.



E se POEma fosse?           
                                                         Abra os olhos,
                                           Atente!
                                           À soleira da porta,
                                             A morte espreita!




Poderia ser um rap, um monólogo, um júri, uma peça teatral, um assunto exposto em uma aula, tantas situações de comunicação que variariam o gênero conforme as esferas de atividades humanas em que está inserido.


                                        (Os textos publicados são de Vitória Paterna)





Atividade:

Pertencemos ao grupo 3 e o gênero de texto que devemos construir para avaliação é um INTERROGATÓRIO.                                         

texto 1

- Srª. Magda? Por favor, sente-se nesta cadeira.
- Obrigada. 
- Foi a senhora quem encontrou o corpo?
- Sim, fui eu.
- Vamos começar. Tente lembrar-se de todos os detalhes, tudo é importante. Seu nome completo, por favor!
- Magda Aparecida Montanha.
- Profissão?
- Sou arquiteta.
- Onde ocorreu o fato?
- Na porta de meu apartamento.
- Qual o seu endereço?
- Rua dos Jequitibás, nº 315, ap 12, na Vila das Lágrimas.
- A senhora pode precisar a hora do acontecimento?
- Por volta das 06h40, pelos meus cálculos.
- Conte o que a senhora viu.
- Bem, eu estava dormindo e tive a impressão de ouvir um barulho que me fez acordar. Abri os olhos, conferi as horas em meu relógio de cabeceira e vi que eram 06h34. Percebi que não adiantava voltar a dormir, logo o despertador tocaria às 07h00 e resolvi levantar. É para contar os detalhes?
- Podem ser importantes...
- Então, levantei-me, lavei o rosto... Não, primeiro escovei os dentes e depois lavei o rosto porque, quando eu estava lavando o rosto, ouvi a companhia tocar. Estranhei, àquela hora e, como moro em apartamento, pensei que fosse um vizinho. Enxuguei o rosto depressa, saí do banheiro e fui abrir a porta.
- Foi quando a senhora achou o corpo?
- Sim, quer dizer, a fechadura do apartamento é complicada. Enquanto eu tentava destrancar, perguntei quem era mas ninguém respondeu. Quando consegui abrir a porta, vi um homem caído.
- Exatamente onde?
- Bem na soleira da porta.
- O prédio em que a senhora mora não tem porteiro?
- Não. São apenas oito apartamentos.
- As visitas sobem direto para os apartamentos?
- Não. Usam o interfone para se anunciar.
- E o interfone não tocou?
- Não. Quer dizer, eu não ouvi. Pode ser que tenha tocado enquanto eu estava dormindo.
- A senhora não teria acordado com ele?
- Pelo menos, eu não percebi ele tocar. Por isso, quando tocaram a campainha de minha porta, pensei que fosse um de meus vizinhos.
- E o que aconteceu depois que viu o corpo caído no chão?
- Bem, eu olhei o corredor para ver se havia mais alguém mas não havia mais ninguém. Eu me abaixei para ver se era alguém que teria passado mal, mas levei um choque: quando toquei o corpo, ele estava gelado... Credo!!! Já estava com aquela rigidez, sabe... de morto... Percebi que era um cadáver. Fiquei apavorada e tranquei a porta depressa.
- Não chamou seus vizinhos?
- Nem ia adiantar. O apartamento 13 é de uma senhora idosa, só iria assustá-la. O casal do 11 sai mais cedo, eles trabalham em outra cidade. O apartamento 14 está desocupado... não tinha quem eu pudesse chamar  no meu andar. Além disso, fiquei com medo que houvesse mais alguém escondido.
- A senhora mora sozinha?
- Sim.
- A senhora fechou a porta e o que aconteceu em seguida?
- Corri para o telefone e chamei 190.
- Percebeu algum ferimento no corpo, viu alguma arma, qualquer coisa diferente?
- Não, nada. O homem só estava lá, caído, morto... Liguei para os outros vizinhos do andar de cima e avisei sobre o cadáver. E, depois, mais alguns minutos, chegou a polícia. Só aí abri a porta de novo.
- Tem mais algum detalhe para acrescentar?
- Não, isso é tudo de que me lembro.
- Assine seu depoimento, por favor! Está dispensada, obrigado.

                                                                                  Vitória Paterna



Texto 2


Após o delegado ter passado pelo local da ocorrência, chamou a testemunha para um interrogatório:
-Bom, Dona Juliana, peço que se acalme e me responda algumas perguntas. A que horas a senhora acordou? 
-Eu acordei por volta das seis horas.
-E o que a senhora fez em seguida?
-Me levantei e desliguei o despertador, depois fui ao banheiro, lavei o rosto e me dirigi à cozinha, ouvi uma buzina e fui até a porta
 achando que era o leiteiro.
-E quem era?
-Quando abri a porta, me deparei com um cadáver estendido em meu jardim.
-E aí, o que a senhora fez, D. Juliana?
-Me aproximei do corpo. Olhei assustada para o cadáver para ver se identificava quem era, mas não consegui reconhecer.
Então, tomei coragem e pus a mão em seu pulso e verifiquei que realmente já estava gelado.
-O que fez a seguir?
-Fiquei meio desnorteada, sem saber ao certo o que fazer, depois corri para dentro e liguei para o plantão policial.
-A pessoa que me atendeu me fez algumas perguntas e me tranquilizou para esperar a viatura chegar




                                                         Ana Maria Soares da Silva de Morais