Ler é melhor que estudar” (Ziraldo). Será? Talvez ler seja a forma mais prazerosa de estudar
já que, quando tomamos um livro em nossas mãos e adentramos suas páginas
estamos estudando a vida, os personagens, a realidade, os sonhos, visão
de mundo, questionamentos, afirmações, posicionamentos, enfim, estamos nos
apropriando da leitura em seu sentido mais amplo, mais libertador e
completo/complexo. A questão é a dicotomia que se apresenta entre leitura e
escola, como se a primeira se transformasse em instrumento de tortura quando se
desenvolve dentro do ambiente escolar.
Há
algumas generalizações perigosas como a de que “A escolarização, no caso da sociedade
brasileira, não leva à formação de leitores e produtores de textos proficientes
e eficazes e, às vezes, chega mesmo a impedi-la.” (Roxane Rojo). Porventura todos os alunos que passam pelos bancos
escolares, seja na escola pública ou particular, tornaram-se leitores e
produtores de textos tão ineficazes assim? É evidente que se pode observar o
fracasso em parte do alunado mas, por competências inatas ou por tarefa de
professores capazes e abnegados, muitos dos estudantes também apresentam
habilidades bastante consideráveis que os leva a interagir com o mundo da
escrita de forma eficaz. É que a preocupação em relação à escola e seus
profissionais é dirigida para aqueles que não conseguem, como se um médico
fosse considerado apenas pelos seus mortos, esquecendo-se de suas curas.
Todos
os educadores, neste caso é permitida a generalização, devem privilegiar o
trabalho com o texto e todas as suas tramas. Tudo é texto: a poesia, a crônica,
o questionário, as instruções, o relatório, o relato, a tela dos pintores ou do
computador, os mapas, as equações matemáticas, a linguagem corporal, o diálogo,
até o nosso pensamento. Este material é o instrumento de trabalho do professor
e é necessário aprender a manejá-lo. A leitura do texto escrito apresenta a
mesma dificuldade de outras. Como relacionar ou diferenciar a tela
renascentista e a barroca? Como interpretar um gráfico? Como localizar
informações em um mapa? Compreender o poema concreto? A forma geométrica ou
frase matemática? Tudo é texto que precisa ser decifrado, compreendido,
interpretado, relacionado, extrapolado, enfim, quantos mais fios da trama
textual pudermos emaranhar melhor será a apropriação de seus sentidos.
O
desafio para a escola e seus professores é tornar a maior parte de seus alunos
mais do que alfabetizados, que cheguem a níveis de letramentos mais complexos.
No texto escrito, o caminho se inicia na decodificação da palavra, passa
pelo entendimento da combinação das palavras e frases, até a apreensão global do
texto. Esta apreensão exige ativação de conhecimento de mundo seja do leitor
como do autor. Vários processos mentais ocorrem como a antecipação dos
conteúdos, a checagem de hipóteses, localização e comparação de informações,
generalizações, conclusões, inferências locais e globais. Não nos apercebemos
que é um processo tão complexo e, talvez a falha de alguns professores esteja
em reconhecer se o estudante conseguiu esta abstração. O educador consciente
deste processo buscará desenvolver estratégias para que seu aluno atinja de
forma satisfatória estas etapas.
O trabalho ainda não está concluído pois há que apreciar o texto,
inteirar-se, dialogar com seu autor e posicionar-se. É necessário reconhecer sua
finalidade, relacioná-lo a outros textos, discursos e linguagens. A cidadania
estará interagindo com todo o processo quando o leitor for capaz de apreciar e
discutir os valores sejam eles éticos, políticos ou estéticos do texto.
A
tarefa do professor em relação ao texto é muito mais ampla do que a
alfabetização, simples compreensão ou localização de informações. Para ser
competente na produção escrita e na leitura, muitas e diversas habilidades
devem ser utilizadas pelos alunos e cabe ao mestre a sensibilidade de buscar e
descobrir estratégias para alcançá-las. É sabido, entretanto, que parcela da
comunidade escolar não atinge esta competência, poucos não conseguem sequer
ultrapassar a barreira da alfabetização por maiores que sejam os esforços de
seus educadores. A Ciência ainda engatinha na busca das causas destes distúrbios
da aprendizagem e suas implicações neurológicas. Há fatores que o professor,
por maior que seja sua competência e conhecimento, sozinho não pode resolver e
clama pelo auxílio de um especialista.
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